Cidade Das Luzes Que Cegam

Blog de Vitor Novais, poemas, meus desenhos, e muito papo-furado. Seja bem-vindo.

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Local: São Paulo, SP, Brazil

Um cara tranqüilo, que ama olhar tudo o que se move e tudo o que pára de se mover, para andar novamente. Eu mesmo paro para olhar o movimento das nuvens, dos carros e das formigas. Tudo que se move é vida, e o que pára nem sempre está morto. Você entendeu o que quero dizer?

domingo, fevereiro 11, 2007

Um dia, uma noite...

Um planeta lindo e perfumado, superfície de flores.
Solto na escuridão gelada do espaço
Solitário por querer assim

Suas árvores, seus ninhos e seu céu.
Tudo esperando por mim
É como um sonho bom
Que nunca sonhei

E eu me lembrando daquela cena:

Você linda, olhos fixos em mim.
Com essa sua elegância
Com esse seu cigarro entre esses dedos de princesa
Com esse seu cabelo que cai de repente sobre os olhos
Ainda, fixos em mim.

Seus desejos, um mistério. O que fazer se não te olhar?

A chuva leve, o relâmpago revelando nuvens ao longe.
Dava pra ver da sua janela.
Você me disse do medo de estar só, numa tempestade.
Sou valente e brigo com os trovões e trago a calmaria e um sono bom.

Estamos indo sem saber
Estamos perto de chegar

Descobri um planeta.
Com suas flores em toda a sua superfície
O ar é bom.
O resto é tom.

Para Lu.

domingo, fevereiro 04, 2007

Aquela do Tim Maia, por favor


A tarde caia. A vida também parecia estar assim para Paulo. Ele estava olhando o movimento e centenas de pessoas em frente aquele ponto de ônibus antes de começar a chorar, antes de começar a perguntar para ninguém, por que tudo estava acontecendo naquela tarde, por que ele queria e precisava chorar... Ela não voltaria com as lágrimas...
A vida não voltaria a ser como antes com a dor, tudo estava mudado, nada estava aceito.

Um homem pequeno passou e olhou para Paulo sentado no chão e suas mãos estavam segurando a cabeça, em uma das mãos, um celular. Paulo estava chorando. Paulo estava sozinho como nunca esteve. A vida estava acabando com ele. Paulo soluçava. O homem pequeno que ouvia em seu mp3 player Burger Queen do Palcebo seguiu em frente, às vezes voltando a olhar para Paulo, que continuava com as mãos no mesmo lugar, ele estava no mesmo lugar.

São Paulo era mesmo uma cidade fria naquela tarde em que Paulo sofria. Os homens não sabiam mais sobre a dor e Paulo acabara de descobrir por todos – pensou o homem pequeno ainda com Burger Queen no seu universo. Nada faz sentido... Dizia a música.

Paulo dali dois anos estaria livre da dor, talvez antes, talvez nunca. Não se sabe nada sobre isso. O que levou a vida parecer um saco plástico na cabeça de Paulo, só ele sabe. A culpa poderia ser de Melissa, mas ela, não via assim. Paulo “demorou demais”, ela disse para um cara chamado Elias, numa balada de sexta-feira, enquanto Paulo trabalhava na loja de camisetas brancas para médicos. Ela estava sempre “acordada”, ela continuou e Elias ouvia atento enchendo o copo dela e o dele de cerveja.

O homem pequeno, antes de dobrar a esquina, deu uma última olhada para Paulo, que continuava a soluçar com suas mãos no mesmo lugar. Naquele momento, Melissa estava ao telefone com sua mãe, explicando o quanto foi difícil pra ela acabar com tudo, o quanto doeu ver Paulo chorar, o quanto ela queria não ter que viver aquilo e terminou o telefonema, dizendo para ela que iria dormir na casa da melhor amiga naquela noite, e que iria desligar o celular.

Paulo não conseguiu ligar naquele momento. Ele não podia se desligar daquilo. Paulo tentou abrir os olhos e não conseguiu enxergar nada. A tarde estava cega para ele, era tarde para tudo. Melissa, Melissa, Melissa por quê? Seu nome parecia uma canção interminável, e sua cabeça parecia um lugar vazio a ecoar o som Melissa.

(continua)